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Ronco? Como acabar com esse incômodo!

Com a agitação da vida moderna, tanto homens como mulheres passaram a acumular cada vez mais atividades profissionais, responsabilidades familiares e sociais. Sendo assim o sono ganhou uma importância ainda maior como principal renovador da energia gasta com tantas responsabilidades. 

Contudo, algumas vezes este importante aliado passa a exercer um papel de vilão. O ronco e a apnéia, originados no próprio individuo, ou por cônjuges e familiares podem gerar conflitos sociais e problemas de saúde extremamente sérios. 

A apnéia do sono é a cessação da respiração por um intervalo de tempo maior ou igual a 10 segundos acompanhada de uma queda da concentração de oxigênio no sangue. Quando observamos ainda algum fluxo de ar associado a uma pequena queda da taxa de oxigênio ou a um despertar no final do evento, denominamos o evento de hipopnéia. Geralmente essas situações vêm acompanhadas de outros sinais e sintomas compondo a Síndrome de Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS). Esta síndrome é caracterizada por episódios de obstrução das vias aéreas superiores (garganta e nariz) durante o sono, associados a sinais e sintomas clínicos – roncos, sonolência durante o dia, episódios de sufocação noturna, despertares freqüentes, muito suor à noite, dor de cabeça, dificuldade de concentração dentre outros. 

A SAOS está inserida na Classificação dos Distúrbios do Sono, como uma modalidade destes, embora outras causas de apnéia como as que têm origem em distúrbios do cérebro e outras doenças existam e constituam uma modalidade a parte. 

Já o ronco é um ruído indesejável que ocorre predominantemente durante o sono. É causado por alterações na conformação das vias aéreas superiores com o estreitamento das suas paredes (úvula - "campainha da garganta", palato, amigdalas, e a língua). As causas dos roncos são múltiplas e estão associadas a alterações da ação de nervos e músculos que compõem a garganta, podendo estar ou não acompanhadas e agravadas por alterações da anatomia do nariz, por deformidades dos ossos da face ou por um grande volume da língua ou da úvula, por exemplo. Em crianças os roncos estão, na maioria das vezes, relacionados com um aumento do tamanho da adenóide e da amígdala, assim como por problemas alérgicos. 

A intensidade do ronco não está necessariamente relacionada com a gravidade da doença. Os ruídos noturnos, contudo, podem gerar problemas sociais, que, muitas vezes, podem levar à separação de casais. Na realidade, apesar do transtorno social causado pelo ronco, a maior preocupação do médico recai sobre a gravidade da apnéia, isto é, os períodos de silêncio. Ao término deste ocorre um ronco explosivo, parecido com um engasgo, acompanhado ou não de movimentos bruscos do corpo. 

Nos tempos globalizados, onde a boa forma é padrão de beleza, os elevados percentuais de gordura também estão intimamente ligados aos distúrbios do sono. Embora a obesidade não seja é um pré-requisito fundamental para a SAOS, existe uma elevada prevalência de sobrepeso nessa população. Muitas vezes o ganho de peso funciona como um desencadeador da doença em uma paciente que já apresentava uma predisposição neuromuscular e anatômica para o desenvolvimento da doença. Por exemplo, uma paciente que até os seus 30 anos tinha 60 quilos, mas que tinha o queixo retraído e amígdalas grandes. Após ganhar 15 quilos em 2 anos passou a roncar. Essa paciente tinha uma passagem de ar pequena, e como ao engordar, adquirimos gordura entre as estruturas internas do corpo, essa via aérea diminuiu, levando essa mulher a apresentar os roncos e a apnéia. 

O diagnóstico do transtorno do sono é feito após uma avaliação de um médico com experiência em SAOS. Na realidade, a abordagem deveria ser multidisciplinar, com ações do otorrinolaringologista, pneumologista, neurologista, e no caso das crianças, de um pediatra. 

Na conversa com o médico são abordados os roncos, a apnéia, a qualidade do sono e os sintomas durante o dia. Alguns exames são solicitados, como a polissonografia, que consiste na monitorização da respiração, do coração e cérebro durante uma noite de sono em uma clínica especializada. São avaliadas também a anatomia do nariz e da face com a endoscopia do nasal, a tomografia computadorizada dos seios da face e uma radiografia com medição das distâncias entre alguns pontos do rosto, chamada cefalometria. O médico deverá realizar o diagnóstico de SAOS baseado em critérios clínicos e alterações dos exames complementares já pré-estabelecidos. 

Embora muito advogada, a cirurgia para roncos e apnéia é reservada, geralmente, para SAOS leves, acompanhadas de alterações anatômicas importantes, como desvio de septo ou paredes da garganta muito flácidas. Contudo a cura não é garantida. Um grupo de cirurgias, como as do nariz, da úvula e palato (céu da boca), das amígdalas, da língua, e dos ossos da face, pode ser realizada, inclusive em conjunto, dependo das causas do ronco do paciente. Para cada tipo de cirurgia existem várias técnicas diferentes, que podem ser escolhidas pelo otorrinolaringologista, de acordo com a necessidade e com a sua experiência com cada uma. 

Muitas cirurgias são realizadas para reduzir a pressão utilizada nos aparelhos com pressão positiva contínua em via aérea superior – CPAP, em inglês, utilizados para oferecer um fluxo de ar adequado para transpor as barreiras ao fluxo de ar. Esse dispositivo é muito comum no tratamento da apnéia do sono moderada e grave e pode evitar as cirurgias. 

Outras medidas recomendadas no tratamento são a redução de peso corporal, o tratamento de doenças como as da tireóide, e a eliminação do uso de sedativos e bebidas alcoólicas, principalmente à noite. 

Cabe ressaltar que ainda não existe nenhum medicamento, com eficácia comprovada em pesquisas, que ofereça um tratamento específico para a apnéia do sono e roncos. 

Contudo, para que mulheres e homens convivam de forma harmoniosa e as mulheres continuem a exercer as múltiplas atividades dos tempos modernos, é fundamental que consigam boas noites de sono. Para tanto é preciso estar atento à boa qualidade do descanso para que a detecção dos seus distúrbios ocorra de forma precoce, permitindo a intervenção médica adequada antes mesmo de problemas maiores se instalarem. 

Dr. Leonardo Sá é formado em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com residência no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE – UERJ) é mestre em Otorrinolaringologia, também pela UFRJ. Assumiu a chefia do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Badim. Além disso, desde 2004 atua como médico e professor substituto do serviço de otorrinolaringologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto. É membro da Comissão de Ensino, Treinamento e Residência da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL–CCF). Em 2003 se tornou sócio da clínica SINUS, onde atende seus pacientes. Sua importância no meio médico pode ser avaliada também pelos inúmeros capítulos publicados em livros e os diversos artigos editados em revistas, como a do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e a Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. E ainda há os resumos selecionados em eventos

nacionais e internacionais.

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